É muito significativo, o fato de que entre nós da Renovação Carismática, algumas expressões, quer por sua repetição, quer pela necessidade que sentimos de afirmá-las e reafirmá-las, vão ganhando caráter de profecia. Acreditamos nelas e perseguimos a sua concretização como se expressassem a vontade de Deus para nós. Particularmente, não vejo nenhum mal nisso, desde que se tenham os devidos cuidados de verificar sua autenticidade à luz do Magistério e da Tradição da Igreja, bem como, das Sagradas Escrituras. Contudo, há de se constatar com tristeza que, embora repitamos frases de efeito, palavras de [ordem] e [chavões carismáticos], nem sempre, procuramos praticar aquilo que nossos lábios expressam, e isso é muito grave, principalmente, quando se tratam de profecias autênticas e ordens vindas do Senhor.

Em nossos encontros, inúmeras vezes temos a impressão de estar ouvindo o próprio Deus falar, tal é o poder que a Palavra proclamada possui, no entanto, se há tanta desordem entre nós, e se os problemas se avolumam cada vez mais, há de se refletir o que precisa ser feito para que o Senhor seja obedecido e amado entre nós. Jesus nos diz que [Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é que me ama. E aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e manifestar-me-ei a ele]. (Jo 14,21)

Há muito tempo uma profecia vem se repetindo no Ministério de Música e Artes da RCC. É a que diz [é preciso deixar Deus fazer o novo no nosso ministério!] ou ainda [é preciso deixar Deus agir naquilo que já sabemos fazer!]. Essa é, sem dúvida, a expressão mais profunda da vontade de Deus para o Ministério nestes tempos, mas, corremos o risco de desobedecer ao Senhor, tornando esta profecia infrutífera, por não pararmos para refletir sobre ela e, conseqüentemente, não abrirmos o nosso coração para que a vontade do Senhor se concretize em nosso meio.

Ao avaliarmos a situação dos diversos ministérios em nossas dioceses, é possível perceber uma procura frenética pela concretização dos anseios e projetos de seus membros sem uma sincera busca pela escuta do Senhor e da Sua soberana vontade. Agimos como se pudéssemos discutir com o Mestre a respeito do que seria [conveniente ou não] para a missão que temos a desenvolver, e assim, nos esquecemos do princípio bíblico de que [Importa obedecer antes a Deus do que aos homens]. (At 5,29)
Imaginemos, pois, que possamos marcar um encontro com Jesus para discutir sobre o que seria conveniente fazer ou não fazer na Sua obra. E mais, como seria, questionar o Senhor a respeito da aplicabilidade das suas ordenanças em relação ao nosso ministério? Isso é hipotético e tremendamente absurdo! Jesus é o Senhor da Obra e a Sua vontade é inquestionável. Não que ele seja um déspota, um ditador, um governo totalitário e sim, porque Ele é Deus.

Muito se fala em deixar Deus fazer o novo no nosso ministério. Muito se fala em abrir mão dos projetos pessoais para que a vontade de Deus prevaleça mas, na prática, os interesses pessoais, os sonhos de fazer sucesso, a vontade de atingir a fama e a vaidade de ser reconhecido, acabam atrapalhando a direção divina da missão e assim, vamos imprimindo uma direção humana ao serviço, com aparência de divindade. Ao invés de orarmos para planejar as ações, planejamos e depois, vamos orar para que Deus concorde com o que decidimos.

Se formos mais além na sinceridade do nosso exame de consciência ministerial, iremos constatar claramente que, a maioria das confusões que enfrentamos em nosso meio, advém do fato de que queremos manter a nossa opinião acima daqueles que questionam nosso projetos. Se alguém chega e questiona nossa postura e diz que, talvez não seja do agrado do Senhor tais posturas ou objetivos, logo nos melindramos e tentamos desqualificar o irmão que nos critica, na tentativa de salvaguardar nossos antigos projetos e ideais para o ministério, que acabam atrapalhando o sonho de Deus para as nossas vidas e para a vida de todos aqueles que o Senhor quer salvar graças ao nosso apostolado.
Não tem como Deus fazer o novo, quando as estruturas velhas ainda estão bem firmadas. Faz-se necessário, portanto, deixar o velho cair por completo, a fim de, afirmar a vontade do Senhor, que é sempre nova, naquilo que almejamos fazer para Ele. O próprio Senhor nos ensina que [E ninguém põe vinho novo em odres velhos; se o fizer, o vinho os arrebentará e perder-se-á juntamente com os odres mas para vinho novo, odres novos]. (Mc 2,22)

No meu primeiro ano como coordenador do ministério estadual, na missão em determinada diocese, uma profecia se fez ouvir e dizia: [Eu vou restaurar vossos ministérios, não da maneira como imaginais, mas do meu jeito e com as pessoas que Eu escolhi]. Nesse mesmo dia, durante uma oração com determinado irmão, surgiu outra profecia: [Se vocês orarem, eu irei à frente de vocês, aos lugares por onde devereis ir. E mesmo que não possais ir, pela oração, vereis as coisas acontecendo, pois, estarei agindo por meio de vós que estareis vigilantes em oração].

Acreditar nessas profecias exige muito de cada um de nós. Exige abrir mão dos projetos pessoais quando pensamos estar fazendo a coisa certa; exige orar muito mais do que estamos orando; renunciar a alguns apegos humanos que atrapalham a visão do Senhor para nossa missão; escolher as pessoas certas para o serviço; corrigir os excessos com clareza e firmeza na Palavra de Deus. Para deixar Deus fazer o novo, é preciso estar firme na escuta e obediência à Palavra de Deus.

É natural que sonhemos, tenhamos projetos, desejemos ser vitoriosos em nossas ações, contudo, Deus não pode ser esquecido. Ele é o Senhor de tudo e a nossa prática deve ser conforme àquilo que Ele deseja que façamos. Isso significa, dentre outras coisas, fazer perguntas simples e escutar as respostas, por exemplo: Senhor, tu queres que eu vá até àquela comunidade evangelizar? Qual música o Seu Espírito sugere para a oração de hoje à noite? O Senhor está concorde com a realização daquele show de evangelização? Este irmão, que sabe tocar e cantar, deve ser convidado para integrar o nosso ministério? O que precisa ser feito para resolver este problema?

Muitos irmãos acabam errando a rota, por acreditar que, desde que a intenção seja boa, isto é, desde que se procure evangelizar, tudo é válido mas, na realidade, o discernimento exige saber o que Deus quer, quando Ele quer e como Ele quer.

Pensemos nisso e abramos nossas mentes e corações para fazer a vontade do Senhor.


Autor: Edson Peixoto Andrade - Coord. Ministério de Música e Artes da RCC BA